Ganância das grandes empresas farmacêuticas está matando dezenas de milhares de pessoas no mundo inteiro
Pacientes são exageradamente medicados e muitas vezes recebem drogas lucrativas que têm poucos benefícios comprovados
Anna Hodgekiss e Ben Spencer
O ex-médico da
rainha da Inglaterra pediu uma urgente investigação pública das práticas
“sombrias” das empresas farmacêuticas.
Sir Richard Thompson, ex-presidente da Sociedade Real de Médicos da
Inglaterra [equivalente ao Conselho Federal de Medicina do Brasil] e médico
pessoal da rainha da Inglaterra por 21 anos, alertou que muitos medicamentos são
menos eficientes do que se pensa.
O médico faz
parte de um grupo de seis eminentes médicos que hoje está avisando acerca da
influência das empresas farmacêuticas na prescrição de drogas.
Os especialistas,
liderados pelo Dr. Aseem Malhotra, cardiologista do Serviço Nacional de Saúde da
Inglaterra, afirmam que um grande número de pacientes recebe drogas inúteis — e
muitas vezes prejudiciais — que eles não precisam.
Eles argumentam
que as empresas farmacêuticas estão desenvolvendo medicamentos para dar lucro,
em vez de terem probabilidade de dar benefício.
E eles acusam o
Serviço Nacional de Saúde de cometer irresponsabilidade ao não enfrentar os
gigantes farmacêuticos.
Sir Richard
disse: “Chegou a hora de uma investigação total e pública do modo como se obtém
e revela a evidência da eficácia das drogas.”
Escrevendo para o
MailOnline, o Dr. Malhotra diz que conflitos comerciais de interesse estão
contribuindo para uma “epidemia de médicos mal-informados e pacientes
desinformados na Inglaterra e outros países.”
Além disso, ele
acrescenta que o Serviço Nacional de Saúde está dando “tratamento exagerado”
para seus pacientes, e afirmou que os efeitos colaterais de medicação excessiva
estão levando a inúmeras mortes.
O Dr. Malhotra
disse: “Não há dúvida de que uma cultura de ‘mais remédio é melhor’ está no
coração do sistema de saúde, agravada por incentivos financeiros dentro do
sistema para prescrever mais drogas e realizar mais procedimentos.”
Ele acusou as
empresas farmacêuticas de “se aproveitarem do sistema” gastando em
comercialização o dobro do que gastam em pesquisas.
O Dr. Malhotra
diz que as drogas de prescrição muitas vezes fazem mais mal do que
bem.
E nos EUA,
estima-se que um terço de toda a atividade do sistema de saúde não traz nenhum
benefício aos pacientes.
Essa estatística
foi apoiada também por uma afirmação feita pela Dra. Marcia Angell, ex-editora
do New England Journal of Medicine (Revista de Medicina da Nova
Inglaterra).
Numa palestra
dada na Universidade de Montana, em 2009, ela revelou que das 667 novas drogas
aprovadas pela FDA nos EUA entre 2000 e 2007, só 11 por cento eram consideradas
inovadoras ou melhorias de medicamentos existentes.
E três quartos
eram essencialmente apenas cópias dos medicamentos antigos.
Considerando o
fato de que a principal responsabilidade das empresas farmacêuticas é dar lucro
para os acionistas — em vez de dar saúde para os pacientes —, isso está longe de
causar surpresa.
Uma pessoa que
tem sido franca sobre os perigos da medicação moderna é Peter Gotzsche,
professor de projeto e análise de pesquisas na Universidade de
Copenhague.
Ele estima que as
drogas de prescrição sejam a terceira causa mais comum de morte depois de
doenças do coração e câncer.
O problema com a
administração de medicação excessiva é que quanto mais drogas você toma, mais
probabilidade há de que você experimentará efeitos colaterais que são
interpretados incorretamente por um médico ou enfermeira como sintoma de doença
que precisa ser tratada com medicamentos adicionais.
Entre 2007 e 2012
a maioria das dez maiores empresas farmacêuticas pagou multas consideráveis por
contravenções que incluíam comercializar drogas por usos fora do rótulo,
interpretação incorreta dos resultados de pesquisa e esconder dados sobre
malefícios.
Mas se tais
multas funcionam como um impedimento é algo controverso quando a obtenção de
lucro é o motivador principal.
Em 2012 a empresa
GlaxoSmithKline recebeu uma multa de 3 bilhões de dólares — o maior acordo de
fraude da história dos EUA — por comercializar ilegalmente drogas que incluíam
um antidepressivo, uma droga de diabete e outra para epilepsia.
Mas no período
coberto pelo acordo, essa empresa contabilizou lucros de mais de 25 bilhões pela
venda dessas drogas.
As revistas
médicas e os meios de comunicação podem também ser manipulados para servir não
só aos meios comercializadores da indústria farmacêutica, mas também ser
cúmplices em silenciar os que pedem maior transparência e análises mais
independentes dos dados científicos.
Pouco mais de 10
anos atrás, John Ioannidis, professor de medicina e políticas de saúde na
Universidade de Stanford, publicou um documento histórico explicando por que a
maioria das pesquisas médicas que são publicadas provavelmente é
falsa.
Ele chegou ao
ponto de afirmar que “quanto maiores são os interesses financeiros em
determinada área, menos probabilidade há de que os resultados das pesquisas
serão verdadeiros.”
A ciência médica
está voltando às trevas.
E a luz do sol
será seu único desinfetante.
Traduzido e editado por Julio
Severo da reportagem original em inglês do DailyMail: EXCLUSIVE: How Big Pharma greed is killing tens of thousands
around the world: Patients are over-medicated and often given profitable drugs
with 'little proven benefits,' leading doctors warn
Fonte: www.juliosevero.com
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