O PT de duas caras. Presidente do PT pede saída de Pr. Marcos Feliciano de comissão.
O PT DE DUAS CARAS
Em março do ano que vem, petistas voltam a puxar o saco dos “crentes”. Ou: Promessa de Gilberto Carvalho de PT disputar espaço com evangélicos está sendo cumprida
Reinaldo Azevedo
Em 2010, o PT buscou desesperadamente o voto dos evangélicos. O
deputado Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos e
Minorias da Câmara, conforme ele mesmo revela em vídeo, foi uma das lideranças evangélicas que negociaram com
os petistas. Já expus detalhes dessa relação.
Marcos Feliciano apoiando Dilma Rousseff em 2010 |
O deputado enfrentou um novo protesto nesta segunda, desta vez em frente à unidade de
Ribeirão Preto da Igreja do Avivamento. Cerca de 200 pessoas cobraram a sua
saída da comissão, portando cartazes com acusações de homofobia e racismo. Ele
seria homofóbico porque se opõe ao casamento gay e racista por conta de uma
frase escrita no Twitter. Já expliquei por que tanto o tuíte como a a acusação são ridículas. O nome
disso é, sim, intolerância. Mas intolerância de quem mesmo?
A suposição de que só alguém “que pensa o que a gente pensa” pode
presidir uma comissão fala por si mesma. Desde o começo, os petistas davam apoio
de bastidores ao movimento contra Feliciano. Agora que veio a público o
entendimento eleitoral entre o deputado e o partido, revelado no vídeo aqui
divulgado, Falcão resolveu tirar o corpo fora.
Eis aí. Está sendo ministrada uma importante lição às correntes
evangélicas que começaram a chamar os petistas de “companheiros”. Têm a
solidariedade do partido só até a página 13. Dali para diante, se preciso, o
partido entrega os aliados aos leões sem pestanejar.
Falta um ano e sete meses para a eleição. Ali por volta de março do
ano que vem, os petistas mandam, de novo, seus emissários procurar as lideranças
evangélicas com promessas e primícias. Esses líderes até podem ser “abençoados”
com prebendas, mas o eleitorado, é certo, estará sendo enganado.
Tudo está saindo conforme o planejado. Gilberto Carvalho avisou em janeiro de 2012 que a próxima tarefa do PT seria
disputar influência com os evangélicos. É o que o partido está fazendo.
Lideranças petistas estão procurando representantes dessas correntes religiosas
para desqualificar Feliciano e para demonstrar que ele não tem o apoio nem dos
fiéis de denominações similares à sua.
Escrevo pela enésima vez: não tenho a menor simpatia pela prática
política (e, até onde vi, nem pela religiosa) de Feliciano. Mas as duas
acusações são absurdas, muito próprias de um tempo em que esses movimentos
militantes decidem quem vai e quem não vai ser demonizado, quem pode e quem não
pode dizer o que pensa. São verdadeiros tribunais de linchamento público. Não
basta ser contra o casamento gay para ser homofóbico. A acusação de racismo,
então, avança a linha do mau-caratismo. Segundo os critérios daqueles mesmos que
estão nas ruas, Feliciano é filho de uma negra. O que ele falou sobre a
descendente de Noé e a África é só uma bobagem, não racismo.
Posso detestar tudo o que Feliciano pensa, mas não me venham pedir
para silenciar diante desse espetáculo grotesco de intolerância. Menos ainda
para participar do linchamento a que aderiram setores “progressistas” da
imprensa, que não cumprem o mínimo da nossa profissão: explicar por que as duas
acusações não fazem sentido. E nem por isso precisam defender que Feliciano
fique lá. No debate público, é perfeitamente possível escolher uma coisa ou seu
contrário sendo honesto intelectualmente tanto num caso como noutro. O que está
em curso é de uma desonestidade intelectual assombrosa.
Reinaldo Azevedo é
católico e colunista da revista Veja.
Comentários